Liebe ist für alle da

Author: Dr. Hannibal /

O sexto álbum de inéditas do grupo alemão Rammstein acaba de sair do forno. Com o nome de "Liebe ist für alle da" “O amor é para todos” o disco me surpreendeu
pelo peso de seus rifes e pela melancolia exacerbada. A banda industrial que melhor representa o estilo enveredou-se por novos caminhos, reduzindo o poder da música eletrônica e caprichando na pancadaria.

O disco já criava polêmica antes mesmo de ser lançado. O single Puse, oitava música do álbum e primeiro trabalho divulgado pela banda, trazia em seu clipe, que assim como em alguns países da Europa, foi censurado no Brasil, cenas de sexo explicito. A música navega pelas relações machistas e opressoras masculinas da sociedade patriarcal em que vivemos desmerecendo as mulheres e colocando a importância do dinheiro acima de tudo.

Com o refrão “Você tem uma xoxota, / eu tenho um pinto / Então, qual é o problema?” a banda ratifica o pensamento descrito nas outras estrofes da canção.

A 1ª canção, com uma introdução lenta, cria uma sensação de que o que vem em seguida, nada mais é do que um canto gregoriano em alguma catedral européia, nada disso, pelo contrario Rammlied se torna uma das mais pesadas do disco e uma

das poucas que ainda pode ser dançada em alguma festa gótica pelo mundo.

Em seguida temos Ich Tu Dir Weh, algo de sádico em uma das mais tristes canções do álbum, “Eu te machuco / Não! Me desculpe / Isso é bom para você / Ouça como ela grita!”, ouça quando quiser matar alguém.

A número 3, Waidmanns Heil, a “Saudação, do caçador!” que pode ser encarada como a Alô da banda em uma caçada pela destruição.

Em quarto lugar aparece Haifisch, ainda sem tradução na net é a melhor para dançar, nela a banda recupera suas origens, permanece o peso, porém a batida inconfundível, que fez do grupo o melhor em seu estilo volta com toda a força.

B******** vem na seqüência, “Bückstabü” ou “o que você quiser” já que a palavra foi inventada pela banda, vazou no mês de julho e presenteou os fãs com uma canja do que seria o disco. Ideal para se preparar para uma boa festa.

Essa me chamou a atenção enquanto ouvia meu MP3, o refrão me lembrava algumas palavras em francês, um sotaque carregado e Paris representada na inocência de um garoto.

Frühling in Paris, a mais lenta do disco, me pareceu ser a melhor. Lenta triste e bucólica, mas ao mesmo tempo restauradora e animadora.

Uma porrada no ouvido, Wiener Blut com o peso e a simplicidade, tem uma batida quase igual durante a música inteira e não inova.

Então vem Pusse e a seguir a música que dá nome ao disco, o carro chefe, “Liebe ist für alle da” “O amor é para todos - para mim também” sexo é bom e quem não gosta?

Antes do fim ainda temos Mehr, sem tradução para o português é uma canção um pouco agressiva com um refrão fácil e ao mesmo tempo sem muita graça.

O assobio de Till Lindemann fecha o disco com a triste e melancólica Roter Sand, “Areia vermelha e dois cartuchos” a dor do amor e a morte. Música lenta e deprimida, ideal para se ouvir em um dia de fossa.

Pra mim, que sou fã incondicional da banda, o disco foi uma ótima surpresa, visto que não esperava algo tão bom, afinal de contas, são poucas as bandas que

conseguem lançar um material como esses depois de um disco, quase irrepreensível como havia sido o Rosenrote, de 1999 e o último de inéditas da banda, é bom saber que ainda tenho a oportunidade de acompanhar grupos tão bons depois de certo vácuo musical na minha vida. Sempre estive preso a Renato Russo, Raul Seixas e Cazuza, o problema era não poder ver nenhuma novidade, pois os três já partiram dessa para uma melhor. Não imaginava que ainda poderia encontrar canções que me chamassem a atenção como as feitas pelo Rammstein, agora é esperar a passagem deles pelo Brasil. Espero que seja logo!

Um Tupetudo e a Legião!

Author: Dr. Hannibal /




Aqueles que me conhecem, mesmo que pouco, sabem que existe uma banda que tem feito a minha cabeça desde os tempos de menino. Levo-a no coração e na pele em forma de tatuagem no meu braço direito. Estou falando da Legião Urbana.

O último dia 11/10 marcou o aniversário do 13º ano de morte do cantor e compositor Renato Russo, líder e principal responsável pelo sucesso do grupo brasiliense. Queria ter podido escrever algo para relembrar esse período sem o roqueiro, mas não tive tempo. Fiquei então pensando de que forma poderia representar a importância da Legião na minha vida e hoje, enquanto escutava algumas músicas no PC, tive uma ideia: por que não retratar a minha vida a partir das letras da banda?

Desde a remota época da fita K7 no rádio do carro do meu pai, passando pelos CD’s e DVD’s, chegando até a Era do MP3 as músicas de Renato Russo e companhia sempre foram as mais ouvidas por essas orelhas pontudas. Em 1987 enquanto o país inteiro era sacudido pelas verdades ácidas do disco “Que país é este?”, Música Urbana 2 do ano anterior me apresentava ao mundo: “mais uma criança nasceu”. Um moleque bonitinho de pouco mais de 3 kg.

Os primeiros anos de vida foram escutando as irmãs mais velhas e o que tocava em seus rádios, lá estava a Legião e logo me via cantarolando “Será” pela casa, essa é a primeira música de que me lembro.

Aos 7 anos ingressei na Escola Professora Maria Amim Ghanem e “Ainda me lembro [...] o meu primeiro contato com as grades, o meu primeiro dia na escola”nunca entendi o por quê daquelas Homenagens Cívicas para ninguém, ter que rezar o pai nosso antes da aula, cantar Hino e me submeter sem questionar ao conhecimento dos professores, para que servia aquilo tudo? Na 5ª série com o professor de história eu descobriria que “até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo” e que a escola ainda poderia fazer isso.

Tempo vai, tempo vem e os primeiros amores começam a aparecer, “se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre sem saber que o pra sempre, sempre acaba?” parecia que nunca ia dar certo, até que eu tinha meu prestigio, mas sempre “fiquei esperando o meu amor passar”.

Quando cheguei na 8ª série, um caso me marcou e eu lembro como se fosse ontem: Chegava todo dia da escola no mesmo horário, perto da hora do almoço e sempre encontrava o meu pai fazendo rede de pesca com o seu radinho de pilha, ao me ver, naquele dia, ele mandou a bomba: “Começou a terceira Guerra Mundial!” achei que era piada quando o rádio anunciou: “Acabam de atingir a segunda Torre¨” corri pra TV e meus olhos estupefatos viam as Torres Gêmeas despencar. Não era a 3ª Guerra, mas era o maior golpe sofrido pelo “Senhor da Guerra”.

No ano seguinte, o Celso Ramos, aquilo sim foi transformador. “O sistema é maus, mas minha turma é legal, viver é foda , morrer é difícil”. Passava os dias entre jogar Handebol e ir pra escola. Completei meus dezesseis anos e veio o primeiro emprego “o que eu tenho é só [...] um salário miserável” e minha liberdade financeira que me possibilitou conhecer o mundo, Shows, festas e curtir com a “Geração Coca-cola”, sem ter hora ou dia para voltar.

Foi lá que eu conheci a Paty, com quem eu me casaria anos depois, infelizmente não durou muito, até porque, “se a paixão fosse realmente um balsamo o mundo não pareceria tão equivocado, te dou carinho respeito e um afago” ela não quis tudo isso, “foi até bom, mas ao final deu tudo errado”. Tivemos nossa música, “Eu era um lobisomem juvenil” ficou guardado em nossos corações. Foi no Celso também, que tive os meus primeiros contatos com o MPL e percebi que “não me entrego sem lutar, tenho ainda coração”.

Chegou o Curso de História, a Revolução estava só começando. Íamos para o bar quando estávamos “cansado[s] de ouvir falar em Freud, Jung, Engels ou Marx”. Foi lá que tive a minha primeira namorada pra valer, “Acho que você não percebeu que o meu sorriso era sincero”. Mais uma vez fiquei sozinho. Chegamos ao terceiro ano “quando tudo está perdido sempre existe um caminho”, cheguei a pensar que não aguentaria a chatice de alguns professores, a monotonia das aulas e da minha vida, até quando eu resistiria? Resisti, graças ao surgimento de alguém que tinha ficado guardada na memória. Logo em seguida “o que disserem, agora meu filho espera por mim”, um turbilhão de acontecimentos “estou pensando em casamento, mas não quero me casar” o medo da mudança, e a coragem de seguir em frente. Casei, o Vini nasceu e agora é ele quem começa a escutar as músicas da Legião, que com certeza farão parte da vida dele como fizeram da minha.