O carro do Videira passeando por Raul Seixas

Author: Dr. Hannibal /


As comemorações pelos vinte anos da morte do Raul, me fizeram lembrar de um professor de química que eu tive no 2º ano do Ensino Médio, o Fernando (vulgo Videira). Ele era do interior do Estado, tinha sotaque forte e gírias estranhas, "Escorregou no Melão", "Derrapou na maionese", os alunos acabavam com ele, no dia que ele esqueceu o zíper da calça aberto então, vixe.... foi alvo de piadas pelo resto do ano. Mas o caso é que algo chamava atenção naquele professor cabeludo que frequentava as festas dos alunos. Ele era fanático por Raul. A tatuagem no braço deixava isso bem claro. O rosto de Rauzito em um enorme desenho, isso sem contar os intervalos de aula, quando eu levava meu violão e alguém tocava Zé Ramalho, Legião, Paralamas e ele, sempre ele, Raul Seixas entre todos, se faltasse tinha briga, o Videira, ficava vermelho, bufava até, e a gente se divertia.

Teve uma noite em que fomos festar e ele passou lá em casa com o carro que havia acabado de comprar, qual foi a minha surpresa? O cara tinha comprado um carro! O pior, era igual ao que o Rauzito usou na capa de "Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!" Ele abriu o Porta malas e lá estava a discografia completa do "Rei do rock" brasileiro, todos os vinis, em perfeito estado. Dei a volta e fui abrir a porta, não abria, tínhamos que entrar pela janela... Sem problemas, pulamos a janela e lá fomos nós.

A festa foi dah hora... A Última grande festa daquele ano. A Última festa com aquele povo que eu nunca mais vi.

Quando a gente muda, vai embora, algumas pessoas ficam para traz e com o tempo o que resta são esses pequenos fragmentos de memória, o caleidoscópio do Saramago. Numa luta constante entre o esquecimento e a tentativa de rememorarmos. Se não fossem as comemorações da semana, talvez as gírias do Videira nuca mais fossem ouvidas, ou nesse caso, lidas.

Os Negros no Brasil

Author: Dr. Hannibal /

Nesse último mês iniciei um curso sobre o ensino de História da África. O 1º dia foi estranho, o lugar era longe que não chegava nunca, de noite, andando sozinho numa região desconhecida, mas lá fui eu, mochila nas costas e sebo nas canelas, visto que não tinha dinheiro para pagar o taxe. Lá chegando, a casa não parecia nada de mais, de noite tudo é meio igual, mas ao entrar, percebi que algo de errado não estava certo no reino do Sr. Tupeti. Santos e divindades espalhadas por todos os lados, a casa de eucalipto sem colunas internas, linda, mas estranha. Era um Terreiro de Candomblé. Aquele mesmo que quando criança, na igreja, aprendi a acreditar que era a casa do Diabo. Nada disso. O lugar é incrível, uma energia ótima e um povo receptivo pra caramba!

De cara o Zelador (Pai de santo) fez uma reza, chamando o poder de Exu, para trazer Axé (Boas energias) para todos nós. Em seguida uma palestra fascinante com um especialista em cultura afro-brasileira que suscitou algumas questões que nós esquecemos, ou fazemos que esquecemos, como por exemplo, as Pirâmides do Egito. Aqueles que a construíram eram negros, e o Egito fica na África. Incrível, parece obvio, mas não é. Os livros de história nos fazem esquecer desses dois detalhes gritantes. O Egito, parece europeu, mas não é!

Hoje, outra aula maravilhosa. Mais um especialista, dessa vez a tônica era o corpo e a forma com que ele fala. Entender um pouquinho da capoeira e das danças, o que elas significam, o que elas guardam de tradição.

De quebra, uma nova informação. Enquanto Gênova e Veneza estão nascendo na Europa, milhares de pessoas morrendo porque defecavam nas ruas, três Impérios Negros africanos, já haviam criado um Sistema de esgotos e de distribuição de água e o continente era a principal rota comercial e econômica do planeta. Não há nenhum registro de mortes por grandes pestes ligadas a higiene em todo o continente africano. Tudo bem... Tudo bem... Isso não significa que a Civilização negra africana seja mais desenvolvida que a européia, ainda tem aquela questão da cor que coloca os brancos na frente... Aí a explicação cientifica... Para se ter melanina é preciso Vitamina D e na Europa não tem sol, branquelo só é branquelo porque a pele branca assimila melhor a pouca luz, só assim o esqueleto aguenta, em compensação, põe um desbotado no sol da Região do Lago Vitória, onde nós surgimos, cientificamente comprovado, eles cozinham.

Cada dia que passa, admiro ainda mais a cultura negra e o que ela representa na história do Brasil.

Lembrem-se, os negros não foram escravos, foram escravizados!

Mais uma dos militares...

Author: Dr. Hannibal /

Volta e meia o tema "Ditadura Militar", vem a tona. Hoje, lendo o ANoticia, qual foi a minha surpresa ao ver que mais um ditador argentino foi parar atrás das grades? O Ex-general, Santiago Omar Riveros, foi condenado a prisão perpetua e, mesmo tendo 86 anos, vai ver o sol nascer quadrado no fim de seus dias. É interessante perceber que o ditador já havia sido condenado no final da década de 1980, o que nos faz lembrar que em alguns lugares, a luta democrática não é tão nova quanto em Terras tupiniquins. Aqui, toda vez que levantamos a questão, falácias reacionárias invadem os meios de comunicação como uma nuvem de gafanhotos devorando a opinião pública. Tentemos compreender o caso, Nosso primeiro presidente eleito fora da ditadura, havia sido presidente da ARENA, e hoje debate aos gritos com antigos companheiros no Senado, seu nome: José Sarney. Em seguida o nosso primeiro Presidente eleito de forma direta, Fernando Collor, mais um ex-Arena e o que aconteceu? O caçador de Marajás foi caçado. Aí já havia se passado oito anos e ninguém sequer falava em punição aos torturadores. nosso próximo presidente eleito, FHC, teve o apoio integral do PFL, atual DEMOcratas, que para quem não sabe, era da ARENA, que ironia, Ditadores Democráticos, e os torturadores? Se mantendo em cargos públicos, dentro dos partidos de direita e das forças armadas.
O governo Lula surgiu como uma esperança para aqueles que esperavam justiça. Pais, mães, filhos e netos de torturados, de desaparecidos e de assassinados. Toda via, foi só o Ministro Tarso Genro propor uma punição e os militares "botaram a boca no trombone". Lula, que também foi preso político, quando deveria ter se mostrado do lado daqueles que sofreram com o autoritarismo militar, se calou e lavou as mãos. Tudo em nome da governabilidade.
Enquanto isso, nosso alunos continuam estudando em Escolas com o nome Presidente Médice, Castelo Branco, continuam andando por ruas com nomes como Sérgio Paranhos Fleuri (Delegado que amedrontava os militantes de esquerda apenas com seu nome).
Entre uma aula e outra, conversei com uma professora de Ed. Artística que viveu o período Tenebroso da nossa política, só de falar o nome Garrastazu, ela já estava arrepiada. Mesmo mortos eles ainda nos assustam. Até quando será assim?