Liebe ist für alle da

Author: Dr. Hannibal /

O sexto álbum de inéditas do grupo alemão Rammstein acaba de sair do forno. Com o nome de "Liebe ist für alle da" “O amor é para todos” o disco me surpreendeu
pelo peso de seus rifes e pela melancolia exacerbada. A banda industrial que melhor representa o estilo enveredou-se por novos caminhos, reduzindo o poder da música eletrônica e caprichando na pancadaria.

O disco já criava polêmica antes mesmo de ser lançado. O single Puse, oitava música do álbum e primeiro trabalho divulgado pela banda, trazia em seu clipe, que assim como em alguns países da Europa, foi censurado no Brasil, cenas de sexo explicito. A música navega pelas relações machistas e opressoras masculinas da sociedade patriarcal em que vivemos desmerecendo as mulheres e colocando a importância do dinheiro acima de tudo.

Com o refrão “Você tem uma xoxota, / eu tenho um pinto / Então, qual é o problema?” a banda ratifica o pensamento descrito nas outras estrofes da canção.

A 1ª canção, com uma introdução lenta, cria uma sensação de que o que vem em seguida, nada mais é do que um canto gregoriano em alguma catedral européia, nada disso, pelo contrario Rammlied se torna uma das mais pesadas do disco e uma

das poucas que ainda pode ser dançada em alguma festa gótica pelo mundo.

Em seguida temos Ich Tu Dir Weh, algo de sádico em uma das mais tristes canções do álbum, “Eu te machuco / Não! Me desculpe / Isso é bom para você / Ouça como ela grita!”, ouça quando quiser matar alguém.

A número 3, Waidmanns Heil, a “Saudação, do caçador!” que pode ser encarada como a Alô da banda em uma caçada pela destruição.

Em quarto lugar aparece Haifisch, ainda sem tradução na net é a melhor para dançar, nela a banda recupera suas origens, permanece o peso, porém a batida inconfundível, que fez do grupo o melhor em seu estilo volta com toda a força.

B******** vem na seqüência, “Bückstabü” ou “o que você quiser” já que a palavra foi inventada pela banda, vazou no mês de julho e presenteou os fãs com uma canja do que seria o disco. Ideal para se preparar para uma boa festa.

Essa me chamou a atenção enquanto ouvia meu MP3, o refrão me lembrava algumas palavras em francês, um sotaque carregado e Paris representada na inocência de um garoto.

Frühling in Paris, a mais lenta do disco, me pareceu ser a melhor. Lenta triste e bucólica, mas ao mesmo tempo restauradora e animadora.

Uma porrada no ouvido, Wiener Blut com o peso e a simplicidade, tem uma batida quase igual durante a música inteira e não inova.

Então vem Pusse e a seguir a música que dá nome ao disco, o carro chefe, “Liebe ist für alle da” “O amor é para todos - para mim também” sexo é bom e quem não gosta?

Antes do fim ainda temos Mehr, sem tradução para o português é uma canção um pouco agressiva com um refrão fácil e ao mesmo tempo sem muita graça.

O assobio de Till Lindemann fecha o disco com a triste e melancólica Roter Sand, “Areia vermelha e dois cartuchos” a dor do amor e a morte. Música lenta e deprimida, ideal para se ouvir em um dia de fossa.

Pra mim, que sou fã incondicional da banda, o disco foi uma ótima surpresa, visto que não esperava algo tão bom, afinal de contas, são poucas as bandas que

conseguem lançar um material como esses depois de um disco, quase irrepreensível como havia sido o Rosenrote, de 1999 e o último de inéditas da banda, é bom saber que ainda tenho a oportunidade de acompanhar grupos tão bons depois de certo vácuo musical na minha vida. Sempre estive preso a Renato Russo, Raul Seixas e Cazuza, o problema era não poder ver nenhuma novidade, pois os três já partiram dessa para uma melhor. Não imaginava que ainda poderia encontrar canções que me chamassem a atenção como as feitas pelo Rammstein, agora é esperar a passagem deles pelo Brasil. Espero que seja logo!

Um Tupetudo e a Legião!

Author: Dr. Hannibal /




Aqueles que me conhecem, mesmo que pouco, sabem que existe uma banda que tem feito a minha cabeça desde os tempos de menino. Levo-a no coração e na pele em forma de tatuagem no meu braço direito. Estou falando da Legião Urbana.

O último dia 11/10 marcou o aniversário do 13º ano de morte do cantor e compositor Renato Russo, líder e principal responsável pelo sucesso do grupo brasiliense. Queria ter podido escrever algo para relembrar esse período sem o roqueiro, mas não tive tempo. Fiquei então pensando de que forma poderia representar a importância da Legião na minha vida e hoje, enquanto escutava algumas músicas no PC, tive uma ideia: por que não retratar a minha vida a partir das letras da banda?

Desde a remota época da fita K7 no rádio do carro do meu pai, passando pelos CD’s e DVD’s, chegando até a Era do MP3 as músicas de Renato Russo e companhia sempre foram as mais ouvidas por essas orelhas pontudas. Em 1987 enquanto o país inteiro era sacudido pelas verdades ácidas do disco “Que país é este?”, Música Urbana 2 do ano anterior me apresentava ao mundo: “mais uma criança nasceu”. Um moleque bonitinho de pouco mais de 3 kg.

Os primeiros anos de vida foram escutando as irmãs mais velhas e o que tocava em seus rádios, lá estava a Legião e logo me via cantarolando “Será” pela casa, essa é a primeira música de que me lembro.

Aos 7 anos ingressei na Escola Professora Maria Amim Ghanem e “Ainda me lembro [...] o meu primeiro contato com as grades, o meu primeiro dia na escola”nunca entendi o por quê daquelas Homenagens Cívicas para ninguém, ter que rezar o pai nosso antes da aula, cantar Hino e me submeter sem questionar ao conhecimento dos professores, para que servia aquilo tudo? Na 5ª série com o professor de história eu descobriria que “até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo” e que a escola ainda poderia fazer isso.

Tempo vai, tempo vem e os primeiros amores começam a aparecer, “se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre sem saber que o pra sempre, sempre acaba?” parecia que nunca ia dar certo, até que eu tinha meu prestigio, mas sempre “fiquei esperando o meu amor passar”.

Quando cheguei na 8ª série, um caso me marcou e eu lembro como se fosse ontem: Chegava todo dia da escola no mesmo horário, perto da hora do almoço e sempre encontrava o meu pai fazendo rede de pesca com o seu radinho de pilha, ao me ver, naquele dia, ele mandou a bomba: “Começou a terceira Guerra Mundial!” achei que era piada quando o rádio anunciou: “Acabam de atingir a segunda Torre¨” corri pra TV e meus olhos estupefatos viam as Torres Gêmeas despencar. Não era a 3ª Guerra, mas era o maior golpe sofrido pelo “Senhor da Guerra”.

No ano seguinte, o Celso Ramos, aquilo sim foi transformador. “O sistema é maus, mas minha turma é legal, viver é foda , morrer é difícil”. Passava os dias entre jogar Handebol e ir pra escola. Completei meus dezesseis anos e veio o primeiro emprego “o que eu tenho é só [...] um salário miserável” e minha liberdade financeira que me possibilitou conhecer o mundo, Shows, festas e curtir com a “Geração Coca-cola”, sem ter hora ou dia para voltar.

Foi lá que eu conheci a Paty, com quem eu me casaria anos depois, infelizmente não durou muito, até porque, “se a paixão fosse realmente um balsamo o mundo não pareceria tão equivocado, te dou carinho respeito e um afago” ela não quis tudo isso, “foi até bom, mas ao final deu tudo errado”. Tivemos nossa música, “Eu era um lobisomem juvenil” ficou guardado em nossos corações. Foi no Celso também, que tive os meus primeiros contatos com o MPL e percebi que “não me entrego sem lutar, tenho ainda coração”.

Chegou o Curso de História, a Revolução estava só começando. Íamos para o bar quando estávamos “cansado[s] de ouvir falar em Freud, Jung, Engels ou Marx”. Foi lá que tive a minha primeira namorada pra valer, “Acho que você não percebeu que o meu sorriso era sincero”. Mais uma vez fiquei sozinho. Chegamos ao terceiro ano “quando tudo está perdido sempre existe um caminho”, cheguei a pensar que não aguentaria a chatice de alguns professores, a monotonia das aulas e da minha vida, até quando eu resistiria? Resisti, graças ao surgimento de alguém que tinha ficado guardada na memória. Logo em seguida “o que disserem, agora meu filho espera por mim”, um turbilhão de acontecimentos “estou pensando em casamento, mas não quero me casar” o medo da mudança, e a coragem de seguir em frente. Casei, o Vini nasceu e agora é ele quem começa a escutar as músicas da Legião, que com certeza farão parte da vida dele como fizeram da minha.

A Ditadura Chilena e o 11 de Setembro americano...

Author: Dr. Hannibal /


Em 1970 chegava ao posto mais alto do Governo Chileno o primeiro comunista eleito do Planeta, Salvador Allende. Até então o mundo socialista só tinha visto o poder chegar em suas mãos através de golpes e revoluções e a eleição de Allende assustou e desgradou o poderio americano e o imperialismo ocidental do bloco capitalista. De cara o presidente chileno mandou nacionalizar todas as empresas americanas do país. O Tio San, que não era bobo nem nada, passou a averiguar a atuação do governo chileno bem de perto e a estimular a oposição para a tentativa de golpe. Até hoje alguns chilenos se perguntam onde estavam os cigarros que nos meses anteriores a queda do governo haviam desaparecido das prateleiras dos mercados assim como outros produtos, como a carne, o arroz, etc. e que no dia seguinte a chegada dos militares, surgiu em grande quantidade e a preços baixos. Devem ter vindo do céu enviado pelos deuses do capitalismo.

Três anos haviam se passado quando apoiado pelos EUA com dinheiro, armas e a garantia de ajuda política e financeira, o General Augusto Pinochet, aquele que Allende mais confiava, lhe deu a punhalada pelas costas. O Anuncio do golpe veio precedido pelo bombardeio do Palácio de La Moneda, dada à resistência do presidente e seus seguidores. Allende cometeu suicídio com um tiro de fuzil na boca, mas não se rendeu, depois dele, milhares de chilenos foram exilados, presos, torturados e mortos. Graças ao "Terror" estadunidense no exterior.

Por ironia do destino, 27 anos depois, no aniversário do Golpe no país da América do Sul, o Tio San se viu abalado por uma força invisível, vinda de fora, força essa muito parecida com a que amedrontou o povo chileno durante anos, a qual chamamos de terrorismo. Centenas de pessoas caindo do World Trade Center, milhões de pessoas acompanhando pela TV chocadas com aquelas cenas criadas por um tal, Osama Bin Laden, que o mundo passava a conhecer e a temer, mas havia um grupo de pessoas que o conheciam bem, a CIA, a mesma que o treinou no Afeganistão. Nos dias seguintes, o mundo acompanhou estupefato o contra-ataque americano comandado por George W. Bush no país do Oriente Médio, mais algumas milhares de pessoas mortas, mas isso não interessava, pois a luta era em nome da democracia, (sempre pensei que democracia era o oposto de imposição) em 2006 o grande presidente americano disse sobre a morte do ex-ditador chileno, “Os nossos pensamentos estão com as vítimas do seu regime e as suas famílias. Elogiamos o povo do Chile por ter construído uma sociedade baseada na liberdade, lei e respeito pelos direitos humanos” Quanta hipocrisia!

Ontem, todos os canais rememoravam os oito anos do atentado em solo estadunidense. Eu me lembrei daquele dia, quando cheguei da escola e consternado ouvi meu pai dizer que a Terceira Guerra Mundial havia começado, por sorte não era bem isso, ainda sinto calafrios de pensar em tanta gente inocente morrendo de uma hora para outra. Mesmo assim, eu não podia deixar de me perguntar: e os afegãos, os chilenos, os iraquianos, as armas de destruição em massa do Sadan? Não sei, ninguém mais se lembra, afinal de contas, eram só mais algumas vítimas da luta contra o terror. Ainda bem que não eram americanas.

O carro do Videira passeando por Raul Seixas

Author: Dr. Hannibal /


As comemorações pelos vinte anos da morte do Raul, me fizeram lembrar de um professor de química que eu tive no 2º ano do Ensino Médio, o Fernando (vulgo Videira). Ele era do interior do Estado, tinha sotaque forte e gírias estranhas, "Escorregou no Melão", "Derrapou na maionese", os alunos acabavam com ele, no dia que ele esqueceu o zíper da calça aberto então, vixe.... foi alvo de piadas pelo resto do ano. Mas o caso é que algo chamava atenção naquele professor cabeludo que frequentava as festas dos alunos. Ele era fanático por Raul. A tatuagem no braço deixava isso bem claro. O rosto de Rauzito em um enorme desenho, isso sem contar os intervalos de aula, quando eu levava meu violão e alguém tocava Zé Ramalho, Legião, Paralamas e ele, sempre ele, Raul Seixas entre todos, se faltasse tinha briga, o Videira, ficava vermelho, bufava até, e a gente se divertia.

Teve uma noite em que fomos festar e ele passou lá em casa com o carro que havia acabado de comprar, qual foi a minha surpresa? O cara tinha comprado um carro! O pior, era igual ao que o Rauzito usou na capa de "Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!" Ele abriu o Porta malas e lá estava a discografia completa do "Rei do rock" brasileiro, todos os vinis, em perfeito estado. Dei a volta e fui abrir a porta, não abria, tínhamos que entrar pela janela... Sem problemas, pulamos a janela e lá fomos nós.

A festa foi dah hora... A Última grande festa daquele ano. A Última festa com aquele povo que eu nunca mais vi.

Quando a gente muda, vai embora, algumas pessoas ficam para traz e com o tempo o que resta são esses pequenos fragmentos de memória, o caleidoscópio do Saramago. Numa luta constante entre o esquecimento e a tentativa de rememorarmos. Se não fossem as comemorações da semana, talvez as gírias do Videira nuca mais fossem ouvidas, ou nesse caso, lidas.

Os Negros no Brasil

Author: Dr. Hannibal /

Nesse último mês iniciei um curso sobre o ensino de História da África. O 1º dia foi estranho, o lugar era longe que não chegava nunca, de noite, andando sozinho numa região desconhecida, mas lá fui eu, mochila nas costas e sebo nas canelas, visto que não tinha dinheiro para pagar o taxe. Lá chegando, a casa não parecia nada de mais, de noite tudo é meio igual, mas ao entrar, percebi que algo de errado não estava certo no reino do Sr. Tupeti. Santos e divindades espalhadas por todos os lados, a casa de eucalipto sem colunas internas, linda, mas estranha. Era um Terreiro de Candomblé. Aquele mesmo que quando criança, na igreja, aprendi a acreditar que era a casa do Diabo. Nada disso. O lugar é incrível, uma energia ótima e um povo receptivo pra caramba!

De cara o Zelador (Pai de santo) fez uma reza, chamando o poder de Exu, para trazer Axé (Boas energias) para todos nós. Em seguida uma palestra fascinante com um especialista em cultura afro-brasileira que suscitou algumas questões que nós esquecemos, ou fazemos que esquecemos, como por exemplo, as Pirâmides do Egito. Aqueles que a construíram eram negros, e o Egito fica na África. Incrível, parece obvio, mas não é. Os livros de história nos fazem esquecer desses dois detalhes gritantes. O Egito, parece europeu, mas não é!

Hoje, outra aula maravilhosa. Mais um especialista, dessa vez a tônica era o corpo e a forma com que ele fala. Entender um pouquinho da capoeira e das danças, o que elas significam, o que elas guardam de tradição.

De quebra, uma nova informação. Enquanto Gênova e Veneza estão nascendo na Europa, milhares de pessoas morrendo porque defecavam nas ruas, três Impérios Negros africanos, já haviam criado um Sistema de esgotos e de distribuição de água e o continente era a principal rota comercial e econômica do planeta. Não há nenhum registro de mortes por grandes pestes ligadas a higiene em todo o continente africano. Tudo bem... Tudo bem... Isso não significa que a Civilização negra africana seja mais desenvolvida que a européia, ainda tem aquela questão da cor que coloca os brancos na frente... Aí a explicação cientifica... Para se ter melanina é preciso Vitamina D e na Europa não tem sol, branquelo só é branquelo porque a pele branca assimila melhor a pouca luz, só assim o esqueleto aguenta, em compensação, põe um desbotado no sol da Região do Lago Vitória, onde nós surgimos, cientificamente comprovado, eles cozinham.

Cada dia que passa, admiro ainda mais a cultura negra e o que ela representa na história do Brasil.

Lembrem-se, os negros não foram escravos, foram escravizados!

Mais uma dos militares...

Author: Dr. Hannibal /

Volta e meia o tema "Ditadura Militar", vem a tona. Hoje, lendo o ANoticia, qual foi a minha surpresa ao ver que mais um ditador argentino foi parar atrás das grades? O Ex-general, Santiago Omar Riveros, foi condenado a prisão perpetua e, mesmo tendo 86 anos, vai ver o sol nascer quadrado no fim de seus dias. É interessante perceber que o ditador já havia sido condenado no final da década de 1980, o que nos faz lembrar que em alguns lugares, a luta democrática não é tão nova quanto em Terras tupiniquins. Aqui, toda vez que levantamos a questão, falácias reacionárias invadem os meios de comunicação como uma nuvem de gafanhotos devorando a opinião pública. Tentemos compreender o caso, Nosso primeiro presidente eleito fora da ditadura, havia sido presidente da ARENA, e hoje debate aos gritos com antigos companheiros no Senado, seu nome: José Sarney. Em seguida o nosso primeiro Presidente eleito de forma direta, Fernando Collor, mais um ex-Arena e o que aconteceu? O caçador de Marajás foi caçado. Aí já havia se passado oito anos e ninguém sequer falava em punição aos torturadores. nosso próximo presidente eleito, FHC, teve o apoio integral do PFL, atual DEMOcratas, que para quem não sabe, era da ARENA, que ironia, Ditadores Democráticos, e os torturadores? Se mantendo em cargos públicos, dentro dos partidos de direita e das forças armadas.
O governo Lula surgiu como uma esperança para aqueles que esperavam justiça. Pais, mães, filhos e netos de torturados, de desaparecidos e de assassinados. Toda via, foi só o Ministro Tarso Genro propor uma punição e os militares "botaram a boca no trombone". Lula, que também foi preso político, quando deveria ter se mostrado do lado daqueles que sofreram com o autoritarismo militar, se calou e lavou as mãos. Tudo em nome da governabilidade.
Enquanto isso, nosso alunos continuam estudando em Escolas com o nome Presidente Médice, Castelo Branco, continuam andando por ruas com nomes como Sérgio Paranhos Fleuri (Delegado que amedrontava os militantes de esquerda apenas com seu nome).
Entre uma aula e outra, conversei com uma professora de Ed. Artística que viveu o período Tenebroso da nossa política, só de falar o nome Garrastazu, ela já estava arrepiada. Mesmo mortos eles ainda nos assustam. Até quando será assim?

A alguns mestres com carinho, a outros nem tanto.

Author: Dr. Hannibal /

Entre janeiro de 2005 e dezembro de 2008, estivemos submetidos ao conhecimento e as experiências daqueles que, nos mostrariam os possíveis caminhos a percorrer em nossa jornada como futuros educadores. Vimos e ouvimos de Nietzsche a Piaget, de Marx ao garçom do Sandubom. Nesses momentos, ou em muitos deles, estiveram presentes nossos mentores, professores e professoras responsáveis por nos conduzir em direção aos teóricos, aos filósofos, aos pensadores e as práticas pedagógicas.

Desde os primeiros meses na Universidade percebemos que nem sempre a teoria era condizente com a prática. Sabíamos que era difícil agradar a todos, que um educador jamais conseguirá atingir os alunos como um todo, e que, mesmo assim, as exceções poderiam suplantar as dificuldades e percorrer com suas próprias pernas os degraus do conhecimento. Nos quatro anos de curso vimos, por exemplo, professores serem criticados, pelo corpo dissente, inclusive sofrendo o afastamento temporário, e mesmo assim, a prática pedagógica não mudou.

Quando ingressamos no Curso de história, éramos 30 colegas entusiasmados, cheios de sonhos e de planos. Lembro-me, com felicidade e um pouco de nostalgia, do teatro de 2005, o João com seu vestido tubinho, nos levou para próximo do cotidiano de um educando do Ensino médio ou fundamental. As saídas a campo para São Chico e para o Caieiras nos aproximaram do mundo da história existente fora da academia que nos prendia. Foi naquele ano que o Car nos apavorou e que Nietzsche surgiu para mim. As discussões nas aulas de política esquentavam os ânimos da turma. Houve até um movimento tentando afastar o professor Afonso. Hoje, aqui está o Afonsão, que nos honra em ser nosso paraninfo e com certeza, será sempre um grande amigo de todos nós.

Seguimos em frente, chegamos ao 2º Ano. As amizades se estreitavam, mas os amigos diminuíam. Recebemos, naquele ano, alguns colegas que permaneceriam conosco até o fim. A psicologia falava do crescimento das crianças, mas não falava do nosso. Conhecemos o Michel de Certau. O Douglas nos convenceu de que Maria Louca havia se suicidado em um dos momentos de práticas pedagógicas daquele ano. Descobrimos também, que depende do professor tornar as aulas agradáveis. Quando propomos conhecer um engenho, tivemos como resposta “eu posso passar um filme”. Ao mesmo tempo, conhecemos São Paulo e seus museus. Surgiram os seminários e descobrimos que os pioneiros da historiografia catarinense estavam entre nós. Naquele ano tivemos o primeiro contato com o estágio.

2006 ficou para trás e 2007 surgiu como um momento nublado em nossas vidas. Perdemos menos amigos naquela passagem de tempo, mas isso não significou maiores facilidades. Enquanto colocávamos a interdisciplinaridade em ação com a aula sobre Revolução Farroupilha que demos para o 1º ano, ainda “Era muita brincadeira para pouco conhecimento”. Conhecimento esse que tivemos de sobra quando apresentamos, juntamente com o curso de Letras, a aula-show sobre Samba e história. Compreendemos, não sem dor, que Marx era importante e devia ser estudado. Fomos para a sala de aula conhecer o mundo do educador e percebemos que não seria fácil. Nesse ano, a figura de duas professoras que eu levo como mestras para o resto da vida, fizeram com que eu não desistisse no meio do caminho. Agradeço de coração a professora Marta e a professora Raquel.

A discussão que tivemos naquele ano com alguns educadores, nos deixou claro que alguns professores eram incapazes de compreender que a única coisa que queríamos era uma educação de qualidade. O que nos trouxe sérios problemas no inicio do 4º ano.

O ano derradeiro se apresentou. Mesmo com os problemas ocasionados pela situação que se estabeleceu no fim do ano letivo anterior, 2008 nasceu como a luz no fim do túnel. Éramos 30 colegas no inicio, agora éramos apenas 18 (ver quantos) originais da turma de 2005. O alto preço das mensalidades ceifou alguns sonhos, mas lhes garanto que essa não foi à única causa.

Hoje, vejo que muito do que eu sentia em relação ao Sistema Educacional, ou pelo menos, o que ainda restava de esperança, se desfez quando a lista da GERED saiu no final do ano passado. Todos nós temos problemas, e isso é fato. Ninguém aqui é melhor do que ninguém, mas todos aqui batalharam e batalham para a cada dia ser um educador que supra as necessidades dos nossos educandos, porém, muitos de nós estavam em posições que nos impedia de dar aula, ou, pelo menos, adiava e muito a nossa realização profissional e que, em contra partida, alguns que desde o início não tiveram comprometimento com a educação, com os colegas de classe ou com os educadores puderam empinar o nariz e dizer “Eu sou professora!”. Todos nós temos a nossa parcela de culpa, mas lembrem-se, caros mestres, de todos os professores observados por nós no campo de estágio e que relatamos o assassinato que eles cometiam com os educandos, lembrem-se de que um dia estiveram aqui no nosso lugar, um dia passaram por vocês e vocês os colocaram lá

Para encerrar gostaria de ler trechos de duas músicas, O poema, de Cazuza e Novamente de Ney Matogrosso.

“Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo eu acordei com medo e procurei no escuro alguém com o seu carinho e lembrei de um tempo, porque o passado me traz uma lembrança do tempo em que eu era criança, que o medo era motivo de choro, desculpa para um abraço ou um consolo. Hoje eu acordei com medo, mas não chorei, nem reclamei abrigo, do escuro eu via o infinito sem presente, passado ou futuro, senti um abraço forte, já não era medo, era uma coisa sua que ficou em mim, de repente a gente vê que perdeu ou está perdendo alguma coisa, morna e ingênua que vai ficando no caminho que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado pela beleza do que aconteceu a minutos atrás”.

“Ao mesmo tempo em que machuca, o tempo me passeia. Quem sabe o que se dá em mim quem sambe o que será de nós, o tempo que antecipa o fim também desata os nós, quem sabe soletrar adeus sem lágrimas e nenhuma dor os pássaros atrás do sol, as dunas de poeira o céu de anil do pólo sul, a dinamite do paiol não há limite no anormal é que nem sempre o amor é tão azul, a música preenche a sua falta, motivos dessa solidão sem fim se alinham pontos negros de nós dois que arriscam uma fuga contra o tempo, o tempo salta quem sabe o que se dá em mim quem sabe o que será de nós, o tempo que antecipa o fim também desata os nós”.